Articulação tenta derrubar veto de Bolsonaro à desoneração à folha de pagamento

(Semana passada – final de novembro de 2023 – presidente Lula vetou a prorrogação da desoneração nos mesmo termos, contrariando sindicatos de trabalhadores e organizações patronais, bem como a maioria folgada que aprovou a medida no Congresso Nacional. Lula atendeu a recomendação da equipe econômica)

Link da notícia aqui

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Para socorrer Dilma, Renan retira o IR da pauta

Josias de Souza

[Foto fazia parte da publicação original]

Reza a Constituição que os Poderes da República são independentes e harmônicos entre si. Sempre firme no seu propósito de presidir o Legislativo com independência, Renan Calheiros já demonstrou que é a favor de tudo e absolutamente contra qualquer outra coisa. Desde que esteja em perfeita harmonia com o Executivo.

Para socorrer Dilma Rousseff novamente, Renan empurrou com a barriga a votação do veto presidencial ao texto que havia reajustado a tabela do Imposto de Renda em 6,5%.

Deputados e senadores esperavam deliberar sobre a matéria em sessão marcada para terça-feira (24). Como presidente do Congresso, Renan é o responsável pela elaboração da pauta. Relacionou quatro vetos presidenciais. Nenhum deles trata do Imposto de Renda. A exclusão ocorre num instante em que até um pedaço PMDB, partido de Renan, tramava juntar-se à oposição para ajudar a derrubar o veto de Dilma.

Às voltas com a herança que deixou para si mesma, Dilma faz por pressão o ajuste fiscal que não fez por opção. E afirma que não há dinheiro no Orçamento da União para cobrir o custo de um reajuste de 6,5% na tabela do IR. Coisa de R$ 7 bilhões. Ela oferece 4,5%, um percentual bem abaixo da inflação, que fechou 2014 em 6,41%. Com o gesto de Renan, o Planalto ganhou tempo para seduzir seus aliados mais fiei$.

A partir de 8 de março, o veto do IR passa a “trancar” a pauta do plenário do Congresso, que reúne deputados e senadores em sessões unicamerais. Significa dizer que nada poderá ser votado antes que os congressistas decidam se vão manter ou derrubar o veto de Dilma.

Autor da emenda dos 6,5%, o deputado pernambucano Mendonça Filho, líder do DEM, disse que protocolará na Mesa do Congresso um requerimento para que o veto do IR seja incluído na pauta desta terça. “Não há razão nenhuma para esperar mais tempo. Os trabalhadores estão sendo penalizados. A presidente diz concordar com o reajuste de 4,5%, mas não fez nada para assegurar nem mesmo esse percentual. Já se passaram quase dois meses de 2015 com correção zero. Agora, querem impor o terceiro mês sem reajuste.”

Mendonça acrescenta: “Não é aceitável que o Planalto exerça seu poder de pressão sobre o presidente do Congresso para impedir a apreciação de um veto que prejudica os trabalhadores, impondo um aumento de imposto disfarçado. Faremos o possível para evitar.”

Fevereiro de 2015

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Com Lula, presidente do PT diz que “Brasil precisa de prefeitos de mãos limpas”

(Folha de São Paulo, 25/10/2012)

“O presidente nacional do PT, Rui Falcão, defendeu durante carreata nesta quinta-feira (25) com o ex-presidente Lula, em Taubaté (SP), que o país precisa de “prefeitos de mãos limpas”.

“Cada dinheiro de imposto que a população paga precisa ser bem cuidado, precisa ser investido na saúde, na educação, na cultura. Não pode ser desviado para a corrupção. O Brasil precisa de prefeitos de mãos limpas”, disse em discurso.

Lula viajou para a cidade do interior paulista para apoiar ao candidato do PT, Isaac do Carmo, que disputa o segundo turno com o Ortiz Júnior (PSDB).

No primeiro turno, Carmo obteve 26% dos votos válidos, contra 49% de seu adversário tucano.

Durante a carreata que percorreu cerca de cinco quilômetros, Lula não falou. Apenas cumprimentou os eleitores e tomou água algumas vezes.

Logo no início do ato, pouco antes das 18h, dois jovens que passaram pelo trio elétrico onde estava o presidente apontaram o dedo médio em riste para o ex-presidente.

As demonstrações de apoio a Lula começaram a aparecer com mais intensidade a partir da metade do caminho. Uma senhora abordou o trio elétrico do presidente e entregou a ele um terço”.

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“Em Taubaté, Lula ataca elites e família de rival tucano”

(Folha de São Paulo, 25/10/2012)

“O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi nesta quinta-feira (25) a Taubaté (SP) para tentar reverter a tendência de derrota de seu candidato, Isaac do Carmo (PT).

No primeiro turno, Carmo obteve 26% dos votos válidos, contra 49% de seu adversário tucano, Ortiz Júnior (PSDB).

Segundo pesquisa Ibope mais recente, a situação não melhorou para o petista na campanha do segundo turno. Ortiz tem 55% das intenções de voto, enquanto Isaac tem 32%.

Em discurso após carreata, Lula criticou a família Ortiz, do rival tucano. “Uma família dirige uma fazenda, uma família dirige uma fábrica se quiser. Mas uma cidade tem que ser democratizada e o povo tem que, de quatro em quatro anos, eleger pessoas, de preferência, diferentes. Taubaté é uma cidade importante. Não pode ser tratada como se fosse o curral de uma família”, afirmou.

Lula associou sua trajetória à do candidato petista, que também foi metalúrgico e sindicalista, e criticou as “elites” –ponto que tem repetido em discursos de campanha pelo país.

Disse ainda ter muitos adversários e que sempre foi “vítima de preconceito” da elite. “A elite deste país é democrática enquanto ela está no poder e nós estamos batendo palma no palanque. Mas quando a gente sobe num palanque e eles têm que bater palma, eles não querem”, afirmou.

O ex-presidente também rebateu críticas que recebeu quando lançou o programa Bolsa Família e voltou ao tema da disputa de classes. “O que incomoda a elite brasileira é pobre estar andando de avião”.

Lula rebateu novamente a crítica de que elegeu um poste –a presidente Dilma Rousseff– e tenta eleger outros dois: Fernando Haddad (PT), em São Paulo, e Isaac do Carmo, em Taubaté.

“Eles [os tucanos] não podem indicar poste porque em 2001 fizeram o apagão neste país. Agora, eu posso indicar poste porque, da mesma forma que de grão em grão a galinha enche o papo, de poste em poste a gente ilumina o Brasil”.

O PT em Taubaté está coligado com o PMDB e o PSDC. A vice da chapa é do PMDB.

O PSDB soma o apoio de 12 partidos da base aliada da presidente Dilma Rousseff. Além do PSB, estão na coligação siglas como PRB, PP, PDT, PTB, PC do B, PSD e DEM. O vice é do PTB.

O candidato derrotado do PSOL, Jenis de Andrade, descartou a possibilidade de apoiar uma das candidaturas. O candidato do PV, Padre Afonso, que também não passou da primeira etapa das eleições, ainda não declarou seu apoio”. 

Meus comentários: o ex-presidente Lula, depois de dois mandatos seus mais dois anos de governo Dilma, completando 10 anos de governo do PT, critica “as elites”, o domínio de famílias na política local, o PSDB pelo apagão 11 anos antes e lança frases de impacto, como “de poste em poste”. A coligação local é com o PMDB. O mesmo PMDB das “elites”, da família Sarney (Lula determinou em 2010 o apoio a Roseana no Maranhão, contra o candidato do PCdoB). Lula conviveu e favoreceu as elites de várias maneiras; Lula foi da elite política (e ainda é). Mas sempre sustentou o discurso das elites como o principal inimigo, juntamente com o PSDB. Uma estratégia vitoriosa, mas um erro histórico.

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Vamos virar um país de mendigos oficiais?

Gilberto Dimenstein

Lancei a pergunta que está no título desta coluna para a coordenadora do programa Bolsa-Família, Ana Fonseca, responsável pela distribuição, no próximo ano, dos anunciados (embora ainda não assegurados) R$ 5,3 bilhões aos pobres. Corremos o risco de viciar famílias em recursos públicos? “É uma questão atordoante”, reconheceu.

Para ela, esses recursos são uma porta de entrada para alguma inclusão dos mais pobres. “Vamos ter de abrir as portas de saída.” Ou seja, as bolsas não são planos de aposentadoria nem esmola, mas mecanismos passageiros para que os indivíduos habilitem-se a ganhar a vida sem ajuda oficial.

Ana Fonseca comentou que, sem crescimento econômico, gerando salários e empregos, não há plano de distribuição de recursos que funcione. “As bolsas virariam um saco sem fundo.”

Um dos maiores especialistas em programas de renda mínima, o economista Márcio Pochmann, secretário municipal do Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade em São Paulo, acha que nem mesmo o crescimento econômico evitaria um nível do que ele chama de “dependentismo”. O que, traduzindo, seria a mendicância com dinheiro público -ou seja, a “bolsa-esmola”.

Impossível deixar de considerar que a bolsa-família, anunciada pelo presidente Lula na semana passada, é um avanço de tecnologia social.

Não se sabe ainda como será a gerência do Bolsa-Família, quantos governadores e prefeitos vão aderir ao programa nem qual o montante de recursos disponíveis. Até agora, o que vemos é somente o desenho do programa.

Mas o desenho revela uma preocupação de evitar dispersão dos recursos, buscando foco. Mais: estabeleceu-se como meta integrar o Bolsa-Família aos projetos similares estaduais e municipais. O que é difícil, como admitiu Lula na última quinta-feira, pela vaidade de governadores e prefeitos. Esse tipo de “vaidade”, diga-se, fez com que se lançasse com forte apelo de marketing o Fome Zero.

Justamente o medo da “bolsa-esmola”, aquele dinheiro que se presta a perpetuar a dependência, faz com que se exijam contrapartidas. Aposta-se na idéia, sensata, de que, se a família atentar para a saúde e a educação dos filhos, haverá, no futuro, mais trabalhadores. “Não é, infelizmente, tão simples”, diz Márcio Pochmann, com o que concorda Ana Fonseca.

Existem segmentos marginalizados há tanto tempo, gerações que vivem na exclusão, que as bolsas, mesmo com todas as contrapartidas, não criaram cidadãos autônomos.

Nem mesmo os países ricos – a começar pelos Estados Unidos- conseguem escapar dos mendigos oficiais. Imagine uma nação com tantos séculos de exclusão e baixo índice de escolaridade.

Nem é necessário ir para o Nordeste para ver a miséria geracional. Na cidade de São Paulo, há centenas de milhares de miseráveis que não têm renda, vivem de favor, trocam trabalho por um prato de comida ou por um quarto. “A renda mínima foi pensada para complementar a renda, não para ser a renda”, diz Pochmann.

O nó social está no fato de que o mercado de trabalho está cada vez mais exigente, e a educação pública de qualidade é escassa. Vemos em todo o país gente com diploma universitário disputando cargos que, a rigor, não exigiriam nem mesmo o ensino fundamental -vagas, por exemplo, para garis. Descobriu-se até uma tendência de executivos diminuindo o próprio currículo na procura por um emprego, temendo serem considerados “qualificados demais” para o posto.

Na semana em que se lançou o Bolsa-Família, novos recordes de desemprego foram apresentados -isso num mês que, tradicionalmente, tende a ser melhor devido à proximidade das festas de final de ano. A imensa maioria dos novos empregos criados é informal, o que faz baixar a renda do trabalhador e reforça relatório do Banco Mundial, divulgado na sexta, informando mais uma vez o fato de que somos o campeão em desigualdade na América Latina. “Além do crescimento, as bolsas dependem da melhoria dos indicadores de saúde e educação”, analisa Ana Fonseca. A miséria, como se sabe, se auto-reproduz; filhos de pobres tendem a ser pobres.

Como se não bastassem todas essas dificuldades, imensas, prefeitos, governadores e presidente não conseguem se entender para coordenar suas ações sociais. É porque a política, no Brasil, depende da pobreza assim como os pobres dependem da esmola -preferem mendigos a cidadãos.

PS – Mais um indicativo sobre os efeitos da crise. Será divulgado nesta semana estudo sobre a classe média da região metropolitana de São Paulo, feita pela secretaria municipal do Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade. De 1992 até 2000, a classe média diminuiu em quase 17%; o número de pessoas mais ricas aumentou 11%; e o dos mais pobres subiu 42%. O fato é que, hoje, não existe nenhum grupo político que represente essa classe média, que não tem direito a nenhum tipo de bolsa, mas já não matricula os filhos numa escola privada.

Folha de São Paulo, 26 de outubro de 2006. https://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2610200322.htm

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Furlan pede otimismo, critica burocracia e poupa Lula

(Grifos e comentários meus)

O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, apelou a líderes empresariais reunidos em almoço, em São Paulo, para que evitem o excesso de pessimismo. Segundo Furlan, não existe qualquer razão concreta nos eventos políticos dos últimos sessenta dias capaz de justificar uma mudança nos ânimos do setor privado. “Estou vendo um excesso de pessimismo”, disse o ministro, “talvez por que tenhamos vivido um excesso de otimismo na virada do ano“.

>>>(Ao menos admitiu ter havido, em algum momento, excesso de otimismo)

Mas o fato, segundo Furlan, é que o capital externo continua a vir para o Brasil, o câmbio está estabilizado, o preço das commodities – – produtos que têm preços definidos no mercado internacional, independentemente de onde foram produzidos -– tem ajudado a economia brasileira e a inflação está sob controle. “Passamos por uma fase segura e temos capacidade para colher investimentos”, destacou o ministro.

Furlan reiterou no pronunciamento que a máquina burocrática do governo tem dificuldade de entender a urgência das prioridades estabelecidas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva a seus ministros. Furlan defendeu Lula, dizendo que o presidente tem o desejo legítimo de fazer as mudanças necessárias para o Brasil e que bate na mesa por elas.

Porém, ele pediu ao setor privado que coloque pressão sobre Brasília para que a máquina pública se torne mais eficiente. “O presidente não faz nada sozinho, e o governo não tem condições de fazer nada sozinho. É o trabalho em equipe, vocês sabem, que vai levar a mudanças”, afirmou.

Furlan também afirmou que o governo tem de assumir que o panorama atual do País é muito melhor do que no ano passado. “É hora de ousar, de assumir que estamos hoje muito melhor do que éramos no ano passado”, disse. Furlan repetiu que o Brasil tem sido um dos “melhores alunos da classe do FMI”, e que isso dá crédito para o Brasil ousar.

Crise política

O ministro ressaltou, ainda, que todo o processo de crise política em Brasília está sendo feito na forma de um debate à luz da democracia e da legalidade. Segundo ele, o caso Waldomiro Diniz apanhou o governo Lula sem um plano de emergência, “pois nunca se imaginou que pudesse acontecer algo deste tipo.”

>>> (Waldomiro era assessor bem próximo de José Dirceu e foi flagrado fazendo tráfico de influência para beneficiar uma empresa em um esquema com as Loterias. Uma das pessoas citadas naquela ocasião era Cachoeira)

Furlan disse aos empresários que o presidente Lula pode não ter a experiência do setor privado, mas suas qualidades como negociador, líder e conhecedor do Brasil colocam-no em uma posição que ninguém do setor privado tem, principalmente no que diz respeito ao conhecimento da dura realidade do País.

http://www.estadao.com.br/arquivo/economia/2004/not20040322p18694.htm – 27 de março de 2004

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Para Lula, quem é de esquerda aos 60 tem problemas

‘Ao receber uma homenagem da revista Istoé, o presidente Lula (PT) afirmou ontem (11) que está cada vez mais distante politicamente da esquerda e que a “evolução da espécie humana” caminha para o centro. A declaração de Lula provocou risos na platéia, formada por empresários, banqueiros, artistas, parlamentares e desportistas. “É a evolução da espécie humana: quem é mais de direita vai ficando mais de centro, quem é mais de esquerda vai ficando social-democrata. As coisas vão confluindo de acordo com a quantidade de cabelos brancos e de acordo com a responsabilidade que você tem. Não tem outro jeito. Se você conhecer uma pessoa idosa esquerdista é porque está com problema. Se acontecer de conhecer alguém muito novo de direita é porque também está com problema. Quando a gente tem 60 anos está no equilíbrio porque a gente não é nem um e nem outro”, declarou o presidente, que completou 61 anos em outubro. Segundo Lula, que recebeu o prêmio “Brasileiro do Ano”, da Istoé, a sociedade precisa seguir o caminho do “meio”, deixando para trás as divergências insuperáveis entre esquerda e direita. Ao falar de sua nova fase política, o presidente destacou sua aproximação com o ex-ministro da Fazenda Delfim Netto, que comandou a economia durante a ditadura. “Eu agora sou amigo do Delfim, passei 20 e poucos anos criticando o Delfim e agora sou amigo dele e ele é meu amigo”, disse o presidente, ao elogiar os índices de crescimento da economia ao longo do governo dos militares. Lula afirmou que o seu grande desafio será fazer o país crescer sem a volta da inflação numa economia global que tem potências emergentes como China e Índia. “Na época do milagre brasileiro, era Brasil, México e Argentina [disputando os investimentos externos], não havia nem Leste Europeu.” O presidente reafirmou que segue conversando com os seus ministros para “destravar” o Brasil. “O passo seguinte vai ser crescimento econômico, com desenvolvimento, distribuição de renda e educação de qualidade. E espero estar vivo para, daqui a quatro anos, vocês me darem o prêmio de brasileiro que cumpriu com as palavras assumidas durante a campanha”‘ (Site Congresso em Foco, 12 de dezembro de 2006, 05:58) http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/para-lula-quem-e-de-esquerda-aos-60-tem-problemas/

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Cachoeira em 2004 – parte UM

“Brasileiro não tem memória”, dizemos sempre – em relação a herois esquecidos, ídolos do passado que vivem e morrem na miséria.

Nossa memória é fraca em geral e não custa reavivá-la de quando em quando. Não é à toa que tantas vezes damos um político como “morto para a vida pública” depois de alguma acusação ou condenação e anos depois lá está ele, lépido e fagueiro.

Essa longa reportagem da Folha em 2004, baseada em matéria da Época que revelava gravações incriminadoras contra um assessor muito próximo a Zé Dirceu e de papel importantíssimo no primeiro governo Lula, cita de passagem um certo Carlinhos Cachoeira. Nos quadros que ilustram a matéria, ainda não tem fotografia dele… O Ministério da Justiça ordenou, na época, investigação minuciosa da Polícia Federal para apurar a extensão do envolvimento de Waldomiro – o assessor e amigo de Dirceu – com negócios de governo e campanhas eleitorais.

Deu no que deu… Mas os primeiros implicados (inclusive Garotinho, hoje portador de 70kg de documentos  que, segundo ele, comprometem outras pessoas) sumiram de cena. Tá na hora de trazê-los de volta ao palco, não?!

A reportagem é longuíssima e eu a dividi em dez posts. Começa com o resumo publicado na capa do jornal:

Vídeo mostra corrupção e derruba assessor de Dirceu

Subsecretário é acusado de negociar propina e concorrência com bicheiro

A divulgação de um vídeo que mostra um dos homens de confiança do ministro José Dirceu (Casa Civil) negociando com bicheiro o favorecimento em concorrências, em troca de propinas e contribuições para campanhas eleitorais, gerou crise no governo federal e a demissão do assessor.

Waldomiro Diniz era subchefe de Assuntos Parlamentares da Presidência e foi assessor de Dirceu até janeiro.

O conteúdo do vídeo, de 2002, foi revelado pela revista “Época”. Diniz era, então, presidente da Loterj. Ele confirma o encontro, mas nega ter recebido dinheiro para si.

No governo Lula, Diniz era responsável por negociar com os parlamentares a liberação de emendas. É amigo de Dirceu há ao menos 12 anos.

Ontem, o ministro e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva estiveram no Rio, na festa de 24 anos do PT. Dirceu e Lula não comentaram o caso.

Mas, em discurso, Lula disse que o PT não pode errar no “comportamento ético”.

O governo pediu à PF que apure o caso e tenta preservar Dirceu. Já o PSDB quer uma CPI. Em 2003, o partido pediu informações à Casa Civil sobre o suposto envolvimento de Diniz com máfia do jogo.

Folha de São Paulo, 14 de fevereiro de 2004

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Cachoeira em 2004 – parte DOIS (grifos meus)

Articulador de Lula cai por suspeita de propina

Waldomiro Diniz, homem de confiança de José Dirceu, é acusado de negociar com bicheiros durante sua gestão na Loterj em 2002

A acusação de que um dos principais homens de confiança do ministro José Dirceu (Casa Civil) negociava com bicheiros o favorecimento em concorrências, em troca de propinas e contribuições para campanhas eleitorais, gerou a maior crise até agora no governo Luiz Inácio Lula da Silva.

O presidente mandou exonerar o funcionário e a Polícia Federal abriu inquérito para apurar o caso, numa tentativa de minimizar o seu impacto político – no Congresso Nacional, já foi pedida uma CPI e o afastamento de José Dirceu do governo federal.

A notícia de que o subchefe de Assuntos Parlamentares da Presidência da República, Waldomiro Diniz, ligado a Dirceu e seu assessor direto até o começo do ano, cobrava propina para si e para campanhas do PT, revelada pela edição de ontem da revista “Época”, fez o governo se apressar em dar uma resposta.

No governo Lula, Waldomiro era o responsável pela negociação direta com os parlamentares para, por exemplo, a liberação de emendas. Tem longa história de trabalho a serviço de Dirceu e de gestões do PT.

Assumiu o posto na Casa Civil no início da gestão Lula. Com a reforma ministerial no mês passado, seu cargo passou a ser subordinado à Secretaria de Coordenação Política e Assuntos Institucionais, de Aldo Rebelo (PCdoB).

A “Época” trouxe a transcrição do vídeo em que Waldomiro negocia com o empresário do jogo Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, dinheiro para campanha eleitoral de 2002. Uma parte do dinheiro seria destinada para o próprio Waldomiro.

Na conversa gravada com o empresário, que seria bicheiro, Waldomiro acerta contribuições mensais de R$ 150 mil para Benedita da Silva (PT) e Rosinha Matheus (hoje no PMDB), ambas candidatas à época ao governo do Rio. Rosinha, que se elegeu, disse ontem que Waldomiro não tinha autorização para falar em nome dela e que vai processá-lo. Benedita disse, por meio de sua assessoria, que não comentaria o caso.

Investigação

A pedido do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, a Polícia Federal abriu ontem  um inquérito para investigar a suposta cobrança de propina. O ministro também solicitou à Procuradoria Geral da República a indicação de um procurador para acompanhar as apurações. O delegado de classe especial Antonio Cesar Fernandes Nunes vai presidir o inquérito. Na PF desde 1978, ele já foi responsável pelas áreas de entorpecentes, polícia judiciária e crime organizado na Bahia.

Segundo os ministros Aldo Rebelo (Coordenação Política) e Thomaz Bastos, escalados por Lula para falar em nome do governo logo pela manhã, o próprio Waldomiro procurou a Presidência para anunciar seu pedido de exoneração, que deve ser publicado na segunda-feira no “Diário Oficial” da União. Mas o governo já havia decido demiti-lo.

Dirceu, que nomeou Waldomiro em janeiro de 2003, não se pronunciou ontem sobre o caso. Segundo sua assessoria, ele passou o dia no Rio, onde, à noite, participou de evento em comemoração dos 24 anos do PT.

A FOLHA ligou para o celular de Waldomiro ontem durante o dia, mas ele não atendeu. O jornal também não conseguiu localizar Carlinhos Cachoeira.

Folha de São Paulo, 14 de fevereiro de 2004

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Cachoeira em 2004 – parte TRÊS (grifos meus)

Comissão

Durante o diálogo, publicado pela revista, Waldomiro diz para o empresário: “Quero 1% pra mim”. Mais à frente questiona o bicheiro se ele aceita: “Tá fechado?”. Carlinhos Cachoeira responde: “Fechado”. Em troca, Waldomiro prometeria benefícios ao bicheiro em uma concorrência pública.

Além desta fita, o Ministério Público possui outra, gravada no aeroporto de Brasília pelo sistema de segurança no dia 5 de maio de 2002. Nela está registrado um encontro entre Cachoeira e Waldomiro, que carregava uma sacola branca e se dirigia ao embarque.

Na quinta-feira, Waldomiro falou com a revista. Reconheceu que esteve com o bicheiro e diz que ele queria ajudar as candidatas Rosinha Matheus e Benedita da Silva. Afirmou ainda que Carlinhos Cachoeira fez uma contribuição para a campanha do candidato do PT ao governo do Distrito Federal em  2002, Geraldo Magela. Dinheiro que Waldomiro diz ter entregue ao comitê de Magela – que nega a história.  O ex-subchefe disse que negociava recursos para um ex-assessor, o publicitário Armando Dile, que morreu em dezembro de 2002.

O encontro gravado entre Waldomiro e Carlinhos Cachoeira ocorreu numa das empresas que o bicheiro tem no Rio. Segundo a revista, quando os dois discutiam cifras e contribuições de campanha, eles escreviam os nomes de supostos beneficiados em uma folha de papel. Rasgada ao final da conversa por Waldomiro, que guardou os pedaços no bolso.

CPI

Em entrevista após reunião com Lula, Rebelo disse que o presidente demonstrou “indignação” ao tomar “conhecimento [do caso] por meio da imprensa”. “[Lula] quer ver esse episódio investigado e esclarecido.” Rebelo disse que não partirá da Presidência nenhuma ação política para tentar frear a abertura de uma CPI no Congresso, mesmo que inclua na pauta o caso do assassinato do ex-prefeito de Santo André, Celso Daniel (PT). O Ministério Público acredita que o crime tem relação com um esquema de propina em benefício de campanhas políticas.

“Ao governo não cabe estimular ou frear nenhum tipo de ação no Congresso, que é um poder soberano”, disse Rebelo.

Segundo Thomaz Bastos, que fez questão de afirmar que o pedido de abertura de inquérito na Polícia Federal foi feito diretamente por ele ao diretor-geral da corporação, Paulo Lacerda, as investigações em torno do caso serão “amplas”, apurando “todas as articulações possíveis”, como crimes eleitorais, de corrupção, extorsão e formação de quadrilha.

“Vamos apurar esses fatos que aconteceram no Rio de Janeiro, em 2002, de uma forma ampla, que procure captar toda a realidade, na sua espessura e densidade, identificando as articulações que tenham havido em torno desse fato noticiado pela revista”, disse.

Segundo o ministro da Justiça, em princípio se trata de um caso a ser investigado somente pela esfera federal, mas, “se forem identificadas questões que dizem respeito à  Justiça Estadual [do Rio de Janeiro], naturalmente isso irá para a Polícia Judiciária Estadual”.

Em julho de 2003, o PSDB já pedira informações a Dirceu sobre suposto envolvimento de Waldomiro com a máfia do jogo clandestino. O pedido era baseado em reportagem da revista “Isto É”.

Folha de São Paulo, 14 de fevereiro de 2004

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