Cachoeira em 2004 – parte SEIS (grifos meus)

Governo tenta proteger Dirceu do escândalo

Equipe pilotada pelo ministro Luiz Gushiken fará uma varredura sobre operações de Waldomiro para evitar novas surpresas

O Palácio do Planalto fará um cordão de isolamento para tentar preservar a imagem do ministro da Casa Civil, José Dirceu, no caso da fita que mostra Waldomiro Diniz, homem da confiança dele, pedindo propina e contribuição de campanha a um bicheiro.

Ao mesmo tempo, um “gabinete de crise” já faz operação pente-fino sobre ações de Waldomiro na época em que trabalhou na Casa Civil e lidou com o Congresso.

Esse “gabinete’’ foi pilotado ontem pelo ministro Luiz Gushiken (Comunicação de Governo e Gestão Estratégica), com ajuda de auxiliares de Lula.

Gushiken ficou encarregado de organizar a reação do governo ao episódio, já que Lula e ministros do partido viajaram ontem para o Rio de Janeiro a fim de participar das comemorações do aniversário de 24 anos do PT.

O governo dirá que tomou as providências cabíveis, fruto de ordem do presidente Lula para agir rapidamente, e que não se sente diretamente atingido pelo episódio Waldomiro porque ele aconteceu em 2002, antes de o PT chegar ao Palácio do Planalto. O governo já anunciou a abertura de um inquérito policial federal para investigar as denúncias publicadas pela revista “Época”.

Também haverá tentativa de relativizar o tamanho da intimidade e da relação de confiança entre Waldomiro e Dirceu. Os dois dividiram o mesmo apartamento funcional na época que o atual ministro-chefe da Casa Civil era deputado federal.

Varredura

Na visão do governo federal, é importante descobrir se Waldomiro continuou a operar na Casa Civil do mesmo modo como operava na direção da Loterj (Loteria do Estado do Rio de Janeiro) durante a gestão da governadora Benedita da Silva (2002), que depois se tornaria ministra da Assistência Social. Ou seja, fazer varredura em seus atos desde que foi trabalhar com o ministro Dirceu para evitar eventuais surpresas desagradáveis. Waldomiro negociava emendas parlamentares e resolvia problemas de congressistas nas votações de interesse do governo.

Assessores da Presidência entraram em contato com as cúpulas de veículos de comunicação para tentar obter avaliações dos danos ao governo federal e para saber se surgirão novas acusações contra Waldomiro e expoentes do PT dentro e fora do governo.

No início da semana, Waldomiro e emissários de Dirceu falaram com jornalistas, tentando descobrir se havia acusação em gestação contra o governo. Na terça-feira, durante jantar com deputados federais, Dirceu demonstrou abatimento. Ele já sabia que o ex-auxiliar seria atingido e temia que o caso respingasse nele.

Rumores

Ao longo da semana, auxiliares relataram os rumores a Lula, mas o presidente soube que a revista “Época” traria uma reportagem com fita na qual Waldomiro pede propina e contribuições de campanha a um bicheiro do Rio.

Waldomiro negou até a última hora um envolvimento com o bicheiro Carlos Augusto Ramos, conhecido como Carlinhos Cachoeira, no nível demonstrado pela fita divulgada pela revista. Ele dizia ter relação superficial com o bicheiro. Lula tomou a decisão de demitir Waldomiro anteontem, mas aguardou a publicação da reportagem ontem para oficializar a exoneração.

Ontem de manhã, quando Waldomiro telefonou para o ministro Aldo Rebelo (Coordenação Política e Assuntos Institucionais), pedindo demissão ao novo chefe, ouviu do ministro que o presidente já decidira exonerá-lo.

Waldomiro era subchefe de Assuntos Parlamentares, seção que foi transferida da Casa Civil de José Dirceu para a Secretaria de Coordenação Política e Assuntos Institucionais, de Aldo Rebelo, durante a reforma ministerial promovida em janeiro.

Folha de São Paulo, 14 de fevereiro de 2004

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